sábado, 18 de dezembro de 2010

Taça

A gente se combina assim: dando tapas e trocando beijos. Eu te odeio, te xingo, te mando ir embora. E você vai, cheio de ódio e rancor. Eu digo que vou embora e você diz: "Vai". Mas chora quando ouve o barulho do avião passar pelo telhado da sua casa.
Lembra de quando ouviamos Chico Buarque juntos, na grama e uma multidão ao redor? Era somente eu e você. Você odiava, mas ouvia, dizendo que ouvir Chico sem pensar em mim não é ouvir Chico.
No dia do teu aniversário, dei a camisa do teu filme predileto. 
No outro dia brigamos.

Você rasgou metade do meu rosto com aquela taça quebrada. Eu rasguei teu peito.


E mesmo assim, Antônio, ainda amo você. Absurdamente. Odiosamente.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A este ser que chegou e se apossou do meu tempo
Que hoje traz a agonia dos recém-apaixonados
A este coração que vive a beira do abismo

domingo, 14 de novembro de 2010

Bolso Laranja

Na tarde nublada, tantas pessoas e uma pedrinha entre elas.
Entrei no ônibus e ele veio atrás de mim, não deixando ninguém passar. Vestia uma calça laranja e uma blusa branca. Sujeito simples, não consegui distinguir aquele olhar, mas pelos cílios, imaginei-o doce. Entrei e ele sentou ao meu lado. Pus minha bolsa para perto. Ouvia música. Viajei em pensamentos, decisões que precisam ser tomadas e no meio da minha confusão, ele me despertou. Ia tirar algo do bolso e eu fiquei imaginando o que seria; ''um celular, algum canivete, algum papel rasbicado de tinta barata?''

E era um biscoito.

Um biscoito... a voz, como que adivinhando, tornou-se doce em meus ouvidos e sem perceber, olhei para o lado e soltei um sorriso discreto.
O menino virou-se. Tinha o olhar duro, sem expressão clara. Voltou a olhar a paisagem cinza desta cidade.
O ponto se aproximava.

Deixei o menino para trás. A pele negra, calma, que retirara toda a inocência e simplicidade do bolso laranja.
Aquele biscoito.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Dia dois

Que eu mantenha a doçura dos teus sonhos de outrora
Por que meu coração ainda chora e ri por ti
Este pequeno, inexperiente e sem graça
Que teima em pronunciar teu nome na chuva...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Noite de Outubro

Eu tava lá, sozinha na parte mais escura da praça esperando por um olhar. Luzes que iluminam a parte mais escura da cidade e tenta, a todo custo, a embelezar. E convenhamos, consegue. As crianças e suas bicicletas, brinquedos luminosos que saltavam e balões coloridos, lembraram a minha infância... O dia em que eu descobri que depois da meia noite não era mais hoje e sim ontem, o amanhã que chegara antes do tempo. No meu mundo. A brisa gelada que dava boa noite, olhares perdidos, boemios...

-Bem que Chico Buarque poderia cantar pra mim agora. Pensei

E cantou... Graduando de voz, como quem quer chamar a atenção. Sem pensar muito, corri para o banco mais próximo, abri uma bebida, fechei os olhos e senti cada timbre entrando em mim.
O velho me olhava. Olhou para os meus cabelos. Ele estava sozinho, de pernas cruzadas.
O ambulante, cansado, parou e sentou-se. As bungigangas refletiam no rosto cansado.
Chico cantou para nós.

Olhei para mim, o velho e o ambulante. Classes diferentes unidas numa noite de lua cheia.
Só a poesia salva. Essa frase marcou a minha noite.

O olhar luminoso chegou.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Ao Grilo.

"Só uma palavra me devora: aquela que meu coração não diz"

To aqui, deitada de bruços, ouvindo um grilo a cantar. Fazia tempo que não ouvia um grilo cantar dentro de casa... e nem estou chateada por isso. Quando era menor, ouvia sapinhos coacharem e fechava os olhos. Imaginava-os na aurora da noite, cantando, pulando, aproveitando cada segundo do sereno. Eu era uma criatura invisível espionando a alegria deles. Nesses últimos dias, muita coisa mudou. Confesso aos meus dedos que não estou feliz com quase ninguém. Poucas (conto nos dedos de uma mão só) eu queria hoje, aqui comigo, ouvindo esse grilo cantar.
Poderia faze-las fechar os olhos e penetrar no timbre desse bichinho. Céus, um insetinho que me faz ouvir do quarto a sua voz. Uma coisinha pequena que pode ser morta num piso, querendo dizer que existe. E conseguindo. Grilo, você não precisa se calar... cante até você não conseguir mais. Eu quero fechar meus olhos e imaginar onde voce está agora. Escondidinho, cantando pro mundo, pros meus ouvidos. Ninguém vai te fazer mal... você canta e eu ouço. Posso até mesmo me atrever a te procurar, mas prometo que só quero olhar pros seus olhinhos pequenos e dizer que não vou te fazer mal. Assim como os passarinhos matinais da Universidade. Pulam, pulam, pulam, pula aqui também, na minha cabeça.
Eu só quero poder ter o prazer de ouvir os grilinhos, sapinhos, passarinhos, lagartas roxas, verdes, atravessarem o meu caminho. Todos os dias. Mesmo que no final de tudo eu fique no quarto ou parada olhando.
Eu quero escrever sobre a vida que ninguém  quer saber.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Mergulho

Eu quero morrer nos teus versos únicos, pequenos e intensos
Como aquela nossa música sem refrão
Que ouvimos tantas vezes juntos
Aquela música de 2 minutos que grita, aos prantos, o que nosso coração demorou anos para dizer
Quero esses olhos grandes e profundos em cima de mim
Que tu entre em minha alma, rompa meus olhos
E beba do meu éter, sangue, da minha água
Que tu levantes minha mão e a beije
O último beijo antes de se molhar na chuva
Eu quero você assim, bandido, cheio de amor e esse olhar intenso
Que vomita palavras embebidas de melodias.

sábado, 25 de setembro de 2010

Desencanto


Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nesses versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
-Eu faço versos como quem morre.
  Manuel Bandeira.

Eu também faço versos como quem morre, Manuel...

domingo, 19 de setembro de 2010

Que os letristas escrevam sobre o meu futuro.
Que o mundo abra uma janela para eu escapar e ver o sol nascer.
Que o inverno do meu coração passe logo, dando lugar a próxima estação.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Marília

O dia nasceu choramingando. Um desses instrumentos de corda estava tocando. Fazia uma melodia matinal. Marília acordou com o coração chuvoso e frio. Pegou a toalha e saiu. Abriu os olhos quando já estava fora da casa, na varanda. O sol nem havia acordado e ela estava ali, parada, com as luzes apagadas, na escuridão da noite que estava arrumando as malas. Sentiu a brisa tocar-lhe as costelas, dançando e brincando em fazer arrepios no corpo.
-O que você faz aí parada?
-Nada! (oh céus, não me deixam nem pensar em paz?)
Marília virou-se, deu um beijo no nada e voltou. De repente, no meio do caminho, pôs-se a chorar. Soluçava, caída no chão. Quem visse Marília daquele jeito que visse, ela não se importava.
Enxugou as lágrimas e foi tomar banho.
Escovando os dentes, olhou-os, como de costume:
-Que bonitos, todos quadrados e grandes.
Então, no abaixar da cabeça, pôs-se a chorar de novo:
-CÉÉÉUS, QUE DROGA DE VIDA! SOU TÃO LEGAL MAS TÃO DISTANTE AO MESMO TEMPO! QUANDO HEI DE SER FEIA MAS TOCÁVEL?

Marília vestiu o casaco cor de vinho, pegou as chaves e saiu. Não se importou em borrar a maquiagem negra, quis se misturar com as gotas matinais e perder-se. Lembrou-se do garotinho de algum filme. "Quero poder ter aqueles óculos e me sentir invisivel".

Quando Marilia conquistou um sorriso, um saco de coisa ruim sentou-se ao seu lado. PRONTO! Era o fim de Marília. Como queria um cigarro, como queria fugir dali, como sua face doía com sorrisos falsos e amarelos, como aquele saco a incomodava!
Marília levantou-se e sem olhar para trás, correu. Correu  até encontrar o posto mais próximo. Encontrou um par de olhos azuis, abracou-o e chorou. O céu chorou junto.
-O que você tem, Marília?
-Tenho a dor dos corações e do mundo, me abraça.

domingo, 5 de setembro de 2010

A história de Nichol

Nichol é um típico rapaz do Norte. Não gosta de festas e nem efusividade. Ficava recluso em seu quarto por horas e sempre que sua mãe perguntava por que ele não saía, a resposta era a mesma: -A luz das ruas estão desligadas.
Um dia, o telefone tocou. Não havia ninguém em casa. Esqueci de contar a vocês que Nichol odeia atender o telefone. Nichol fechou o livro com a ira de um Deus, causando um estrondo em toda a vazia casa. Levantou-se, ecoando o barulho do salto de seu sapato, desceu as escadas, passou pela biblioteca, virou-se à cozinha e enfim estava frente ao telefone. Oh, que barulho horrendo. Parecia um bebê que insista em chorar no meio da madrugada, doía-lhe os ouvidos, a mente, até os dedos. Nichol olhou em volta, não havia ninguém. Trêmulo, tocou ao telefone, no último bipe, e atendeu.
-Olá?
-Oi, Nichol?
-Pois não?
-Tô com grana e quero sair, vamos?
-Não dá.
-Deixa de coisa cara, vamos logo!
-Você sabe que odeio que me chamem dessa gíria. 
-Tudo bem, desculpe. Vamos?
-Não.

Nichol desligou o telefone. Quis jogá-lo pela janela, enterrá-lo e nunca mais ter contato com essas pessoas. ''cara'', onde já se viu?
Nichol ficou por 2 minutos parado, fazendo toda a reconstituição daquelas últimas palavras proferidas.
Sentou-se na cadeira mais próxima, olhou o céu pela brecha da cortina laranja.
-O anoitecer me faz triste.
Então, Nichol, no mesmo instante, levantou-se, pegou seu casaco, as chaves e partiu. Não sabia ao certo para onde iria, mas iria.
Rondou todo o centro da cidade, comendo cada fatia dos prédios antigos, das árvores centenárias, das luzes, dos ferros, das cores e de alguns olhares curiosos. Queria ver o rio.
Estava anoitecendo e ele sabia que não haveria canoas para o levar num pequeno tour. Ele sabia falar inglês e, como gringo por essas terras sempre tem preferência, pôs-se a resmungar alguma coisa em outra língua.
Nadou o rio, escalou grandes barcos e enfim encontrou alguém para levá-lo.
Nichol nunca havia se sentido tão feliz quanto aquela tarde. Olhou para seu reflexo naquelas águas negras e voltou a olhar para o céu. O crespúsculo transformara-se em manhã. Ooh, doce e saudosa manhã...
Nichol tirou sua melhor amiga, a máquina fotográfica. Estava tão excitado que de repente, passou a enxergar não pelas retinas, mas pela lente da máquina. Sorria e prestou-se a tirar fotos até do homem simples que remava.
-Look! It's so beautiful...

Nichol passou por cataratas, cachoeiras, viu todos os tipos de animais, flores e árvores. Sentiu-se completo diante de tanta beleza. Queria morrer ali, naquela canoa branca, olhando as gaivotas rosas sobre sua cabeça. Nunca mais Nichol voltou à antiga casa colonial. Roubou de si os livros, o casaco e as chaves [embora esta última não seja mais útil].

sábado, 4 de setembro de 2010

Setembro

-Eu poderia ficar sentado uma eternidade aqui com você, sabia?
-Eu também. Por que demorou tanto?
-Porque voce não me chamou...

Numa manhã de Setembro, lá estava eu, esperando, como mais um dia, o onibus passar. Deveras estava demorando. Fazia frio, mas o sol teimava em aparecer, nem ao menos que fosse pra sinalizar que existe.
A aula começava às 6h. Já eram 05:30. Olhei para o relógio. Avistei alguém pelo vidrinho, olhei pra trás e era um velho colega. Trocamos algumas palavras soltas e sem sentido. Algo como ''oi, o que cê faz aqui?''
Então, num relance de olhar, eu o vi. Ele vinha descendo a rua, sem nenhuma preocupação aparente. 
Cabelos longos, castanho claro, pele alva e olhos claros. Verde, marrom, cinza, até hoje não sei ao certo quais cores eram. Mesmo que todas as noites eu o olhasse profundamente e interruptamente. Aquele olhar fundo, as pálpebras levemente caídas, o típico rosto de alguém perfeito para uma bela maquiagem. 
-Oh, páre com esses pensamentos sem sentido! Ele é um homem, um moço, um menino saindo da infância e descobrindo a cor do mundo.
Mr. Johnson olhou para trás e o reconheceu. Era um amigo. 

-Oi! Quer ir comigo?
-Pra onde?
-Nesse onibus...
-Ah sim, claro! Vamos
-Posso te dar meu violão, c quer?
-Seu violão?
-Oh, não pense que é uma troca de favores, viu?
-Que isso, eu sei que não.

Sorri o sorriso mais sem graça da história. Eu estava maravilhada, sabia mas não queria admitir. Será essa a minha grande chance? Ou não? Talvez seja mais um dos jogos sem graça da vida.
Entramos, sentei ao lado direito. Tinha vários bancos vagos, mas ele sentou-se ao meu lado.
-Acho que gostei de você assim que te vi.
-Eu também.

As mãos ficaram trêmulas. Eu desapareci, ele ficou lá.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

02-09

Esses dias tem sido assim: todos a mesma coisa, o mesmo tom cinzento e bocas que se mexem sem parar.
Sinto-me a mais covarde de todas em ter que aceitar tudo o que tem acontecido. Ou não.
Talvez agora eu queira sair dessa capsula e sofrer os danos do mundo. Sem ninguém para me controlar.
Eu quero poder alcancar a mão da liberdade e nunca mais solta-la. Ahh se tivesse plena certeza que o alto custo traria exatamente o que espero...
Não quero falar, ouvir nada de ninguém, ver ninguém e muito menos que me venham com falsas preocupações. Aliás, nenhuma preocupação. Quero poder ficar sozinha e invisível.
Se pudesse, vestiria uma capa e todos os dias faria o mesmo trajeto, sem que ninguém percebesse que estou ali.
Realmente cansei de esperar que alguém sente ao meu lado e pergunte como foi meu dia, se estou bem, se quero conversar. Alguém que mais tarde não use isso contra mim, como diria algum desses cantores famosos. Alguém que fosse meu amigo, não em uma semana, mas por anos. E que não enxa meu saco quando eu quiser ficar sozinha, porque ele sabe que eu preciso. Uma criatura tão forte e sem frescuras quanto acho que sou. Ok, o forte pode ser ignorado por hoje.
Enquanto tudo cada vez mais se torna instrumento de pressão, eu durmo. Durmo para esquecer que existo, pra ver se essas horas passam mais rápido.
Enquanto alguns tentam acabar com meus planos e alegrias, me torno uma covarde e deixo chover por dentro. Chorar? Deixo pra fazer quando ninguém tiver me olhando.
Ninguém mais precisa dizer que está de saída quando eu chegar.

Um beijo e adeus.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Último dia de Agosto

É olhar para os olhos e pensar: é disso que estou falando. É acreditar que ninguém entenderá suas bizarrises e de repente aparecer alguém tão bizarro e estranho quanto você. 
Sereno, olhos profundos, cabelos enrolados.
Eu o amo  pelo que é e essa bola que fica dentro de mim, permite eu fazer tudo para ficar com ele.
É o arriscar e ir contra todos os conceitos, ética, moralidade.
Sujar-se com a própria lama do quintal e dizer que foi culpa da chuva.
Fechar os olhos, abrir e ver-te ao meu lado, me olhando. Sem fazer nada. Ou tudo.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Estranhos

Marcava duas horas da manhã quando ela abriu a porta e ele estava sentado, tomando mais um copo de cerveja. Ela tirou os oculos e sentou-se à sua frente. Despiu-se do casaco e olhou para ele, os olhos estavam carregados de maquiagem escura. Eram aqueles olhos pesados olhando para aquele olhar profundo e límpido.
Ele soltou uma brincadeira qualquer e ela sorriu, pediu desculpas pelo horário e ele, como sempre, ignorou e entrou em algum assunto. Conversaram, beberam e ela começou a entrar naquele coração escondido, entre as montanhas de vento.
Sentiu que estava em casa, quis pegar na mão dele mas hesitou. Ele sempre foi metido a machão, mas se mostrara tão dócil que colocá-lo dentro da bolsa seria egoísmo.
Conversavam e cada minuto que se passava, as palavras multiplicavam.
O sol raiou e ele olhou para fora. Olhou para ela. Disse: "Eu amo você. Pra caralho."
"Você terá seu filho, nem que seja com uma mulher, em uma noite."
"Não existe mulher que não seja você, quero para sempre"

Ela olhou para o sol e viu o laranja claro do dia nascendo.
Olhou para ele e tocou nos seus olhos. Deu-lhe um afago.
Ele se levantou, deu-lhe um beijo e saiu.

Um fio de cabelo ficou na bolsa dela. Um fio do imenso cabelo dele. Um fiapo daquele olhar.
Levantou-se e gritou, vendo-o por a mão na porta: "EU TAMBÉM AMO VOCÊ, ESTRANHO!".

sábado, 7 de agosto de 2010

07 de Agosto

No meio de tantas pessoas [ó como eu odeio falar "pessoas"] parei com os pés calejados. Olhei para os sapatos e lembrei de uma frase. "Quer conhecer alguém? Olhe os seus sapatos". E de repente, eu era outra pessoa, diante de mim, olhando para os meus sapatos, como se fossem os olhos. Tão surreal que poderia levantar a sola e escrever toda a minha história, todos os pequenos e discretos sapatos que ja tive e que ainda persisto em usar. O meu sapato, tão bonito mas doloroso por dentro. Como o meu coração, que faz dos meus pés, migalhas. Fiquei boa parte do tempo fitando-o, na parte mais esquecida do shopping. Eu, o par de sapatos e um moleque que insistia em bater na madeira do banco. Nada insistia em existir, somente nós três, os únicos que se inseriam num mundo que insistia em existir mas que ninguém parava para olhar. 
O bater na madeira se tornou mais forte e me despertou como um estalar de dedos. Levantei a cabeça e vi um garoto esquivo e magrelo, com um boneco que mais parecia sua caricatura. Ele andava esbelto e se animou quando viu algum outro boneco. De repente, não mais que de repente, a atenção muda com um abraço forte, daqueles que o levanta ao ar. "Quem será este que o invade no meio da multidão?"
As duas mulheres que o acompanhava, distanciavam-se, na desculpa de ver uma mercadoria qualquer na vitrine mais próxima.
O garoto pulava e o homem o beijava. "Só pode ser pai dele. Como são parecidos..."
Ouvi a voz do homem, chamá-lo de filho.
E aquela atmosfera foi se reprimindo. Só os dois e eu, a bisbilhotar. Junto com os sapatos que já deixara de me olhar, espionava comigo aquela cena. Digno!
O desejo de abraçar um homem e ele me chamar de filha, tomou conta de mim. Com aquela mesma alegria, mesmo apreço. Sem se importar se a mãe fala ou não com ele. O garoto era o único da vida daquele homem, o filho dele. Aquele que o parava no meio da multidão, ficava grandiosos minutos abraçados e o beijava, com o doce mais embriagante de todos os chocolates e açúcares.
Fiquei olhando o resto das crianças e seus pais. Domingo era o dia deles. Deveria estar comprando algo, com o pensamento longe. Mas eu estava ali, sentada, desejando esse mesmo amor confiante.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Harold

Sinto que tem alguém aqui. É, tem sim. Ouço a respiração, os passos e os olhos de vidros atrás de mim.
Apareca! Mostre-se seu covarde!
Uma batida na janela. Olhos dilatados.
Vamos, eu sei que você está aqui, eu sinto, saia daí. AGORA!

Silêncio na porta e Harold continua sozinho, na penumbra na casa mal arrumada.
Alguém do lado de fora ouve o barulho e de longe avista a silhueta trêmula e confusa. Chega perto mas arrepia-se. Oscila e anda em ré, sai correndo.

Não sinto minhas mãos, eu o vejo mas ele não se mexe. Por que diabos ele está me olhando? Tenho que me esconder, esquivar, ele lancará sobre mim mosquitos e gafanhotos. Uma das pragas do egito irá se assombrar sobre mim.
Ó não, o leão, ele está aqui! Está despejando água sobre mim, não, saia, saia, SAIA!

Harold se contorcia no chão, arranhava a madeira com as unhas quebradiças. Pequenos pedaços de retinas eram desperdiçados, cabelos soltos no tapete e cortina.

"Saia, saia! Você é um louco!"

Harold gritou durante a noite toda, pela manhã foi achado no chão com os olhos vidrados banhados de água e algo nos umbrais...

NUNCA MAIS.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O dia do sonho verde

Ás vezes, por alguns motivos exteriores, penso que ninguém gosta de mim. São apenas pessoas que falam coisas p me agradar, tentar, quem sabe, tirar algum proveito. Passo a olhá-las nos olhos, por cima da cabeça, o balançar das pernas quando estão perto de mim e a voz que (as vezes) chega a tremer. Uma desconfiada nata.

-Por que tenho que pensar isso das pessoas,mãe?
-Não é necessário pensar, filhinha. Simplesmente algumas pessoas são assim, exageradas. Mas isso não quer dizer que elas não amem você.
-Então por que penso isso delas?
-Porque você deixou de acreditar no amor que sente por si.
-É.

Hoje,senti o olhar das palavras e gestos ocultos, pequenos e grandiosos de pessoas que me amam. Sem ter que falar toda hora para provar ou ter que se jogar no meio dos carros p eu passar. O amor que mostra o fio de cabelo branco crescendo, no meio da escuridão das minhas ondas. Os olhos que brilham e sorriem quando eu abro a porta da sala de aula, corre para perto de mim e me dá bom dia. Só para mim. O amor que não precisa ter um motivo para existir. Talvez tenha: o encantar das auras.

-Iza, Iza, Iza, Iza. Já disse que amo seu nome?
-Eu odiava quando era pequena.
-Não, eu não acho.
-Você tem os sapatos mais lindos, os olhos mais brilhantes e a voz mais suave que eu já ouvi.
-Fiquei feliz por tê-la visto.

Às pessoas que não precisam de um motivo para me olhar e me entender, nem que seja 1%. A todos que não precisam de complexidade para me amar. Eu não preciso saber, mas deixem que eu continuem sentindo essa mesma aura e esses olharem sorridentes. Deixem eu ainda poder SENTIR o coração de vocês. Este sim, é um velho Buk. Não  dá p estampar palavras bonitas na frente de um coração sujo.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Coração na mão

Li metade do livro sem dar conta que tinha lido mais do que era o planejado. Ora, isso não importa, estava lendo,  mumificada com as letras, com o drama. Por um momento me senti como o protagonista, alimentando um amor sublime pela ninfeta, esta tão pobrezinha e pequena.
Eu sou sim este velho que nunca amou na vida e já perto da morte se depara com ele ali, parado em posição de ataque e calmaria, o amor.
Meu bem amado que atravessou meu caminho do nada e no ato não imaginaria por quanto tempo iria durar. E continuo pensando, por mais que 1 ano tenha se passado e mesmo rompidos, ainda ouvir os murmurinhos sobre ele, as perguntas incansáveis como ele está e os fatos diários que insistem em lembrar de vossa presença. 
Por um momento chego a pensar que nada tenho, nada tive e nada terei. Lembro que antes do dia de glória, pensava o que seria do futuro. O que seria se eu, desprovida de amor, iria permanecer por muito tempo. O futuro, este inconstante, sempre mostrava-se branco e só depois de algum tempo, lendo em um livro (estes fiéis que parecem adivinhar meus passos), entendi a brancura de dias próximos.
Estaria neblinado e fugaz, até o destino tirar a capa e mostrar o verso pintado de dias ensolarados e estrelas cadentes. Cada estrelinha, um pedido, um a um sendo realizado.
A vontade incansável de sair pelas ruas cantando, baixinho, alto, beijando as flores, faces, recitando os versos compostos na hora, quentinhos, como pães de queijo feitos no final da tarde. Sair para fechar a janela e me deparar com o céu amarelo em pleno fim de dia, horário sagrado, o chão amarelo! Cadê minha máquina fotográfica? Não, deixe-a lá, você precisa guardar isto somente entre você, seus olhos e seus versos. Algumas coisas são tão bonitas que seria impossível reproduzi-las. Como o amor que eu sinto pelo céu, pela cantiga de ninar, pelos contos de fada, pelas pessoas que eu conheco e as que eu nunca conhecerei, pelo meu amor... este tão grandioso e paciente. Mesmo em meus dias de impaciência.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Bela Lugosi's Dead

White on white translucent black capes
Back on the back
Bela lugosi's dead
The bats have left the bell tower
The victims have been bled red velvet lines the black box

Bela lugosi's dead
Undead, undead, undead

The virginal brides file past his tomb
Strewn with time's dead flowers bereft in deathly bloom
Alone in a darkened room, the count
Bela lugosi's dead
Undead, undead, undead

Undead
Oh, Bela, Bela's undead

For all the lover's dracula P&B!
Music from Bauhaus
Today!

terça-feira, 29 de junho de 2010

Cinza

Acorda menina! O sol já estreiou, o dia já nasceu.
-Não quero abrir os olhos, deixa eu dormir... o dia todo!

Que os pesadelos sejam afastados, a força esteja comigo e os sonhos voltem a decolar.
Que assim seja!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Primeira Manhã de Junho

E de repente foi assim. Soltamos risos, atraimos olhares, deixei minha meia aparecer e as marcas dos  meus braços. Simples, como ser embrulhada pela mamãe antes de dormir e me sentir a garota mais feliz do mundo porque fui embrulhada pela pessoa que mais me ama. Em todo o mundo. De repente, quis sair e dizer que eu estava feliz. Não feliz com eles, mas comigo. De repente o sorriso se expandiu e lá da outra esquina alguém sorria pra mim. De repente, eu corri e um negro alto com sorriso largo falava: É lindo o jeito que você corre.
E fiquei rubra, pequena, tímida. Mas feliz.
"Nossa, alguém viu como eu corri. Segurei minha bolsa e alguém achou lindo. Que lindo!"
Ouvi música nos ouvidos e a música dos passaros. Ambos, simultaneamente.
"O que voces querem ein? Estou ouvindo música, mal educados!"
-Eu quero a sua atenção, sua boba.
E tirar, um lado para eles e outro para a música, mesmo eles sabendo que ambos estavam SÓ pra eles.
As pessoas? Ah, elas eu nem olhei. Só sorri. Sorri com os olhos, com a alma, com as mãos.
Uma esquecida e invisível sorrindo para mãos calejadas que circulam o centro.

Paguei uma dívida.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

23/06

Não sei, mas algo eu sei que está errado.
Bem, eu não faço o estilo indie.
Nem qualquer outro.
Talvez seja isso que incomode as pessoas. Ou as afastem. Vivo sozinha desde sempre, desde q me entendo por gente. Ok, sei que feiona não devo ser, já que ouço elogios na rua (mesmo que seja de velhos bebados em manhãs de segunda feira).
Bem, seja la por qual motivo for, foda-se. 
Não vou cortar o cabelo e deixa-lo alisado so p impressionar. Nao vou usar oculos sem grau, all star vermelho, SO p dizer q sou cult. Nem vou comprar pilhas de livros e filmes e nao assistir nem a metade so p dizer que tenho e que sou a menina mais inteligente do bairro.
Continuarei lendo Drummond e Bukowski com a mesma naturalidade.
E mesmo q me doa todos os dias voltar sozinha para casa, nao vou me incluir em nenhum grupo so p ter alguem p conversar na hora da saida.
Continuarei fazendo meus exercicios, indo a Orla, beijando o céu e voltando p casa sozinha.
Assistir tela quente e aquele filme que ja vi trilhoes de vezes. Sozinha.
Ouvir a mesma musica quatrilhoes de vezes, sozinha. Sozinha.


É, posso estar sendo foda-se demais e por isso vivo sozinha.
Se for p ser assim, serei.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

11/06

Ele entrou com flores, passando por cima de todos
mas entrou
era para ela e isto estava estampado nos olhos dele
por um momento, uma pitada de inveja
''odeio flores, mas queria.''
ele desceu, com os olhos claros de esperança
e eu continuei sozinha
olhando pela janela do onibus o amor passar distante de mim.

Sobre estar só, eu sei.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Tarde

Na agonia da tarde, na barulheira dos carros
Os pés cansados, os dedos calejados
A rua cheia e fedendo a queimado
A mente baixa e olhos pesados
Fim de tarde, carros agitados
A perturbação dos versos mal feitos
Da técnica mal realizada
Das palavras mal organizadas
Jogadas no meio da rua empoeirada

No fim, não mais que isso
O homem que acena para o cachorro
A música que marca a adolescência
O velho na casa abandonada
Escuro e sereno
Fecha e sauda a rua com os acordes
do violão amadeirado
E tudo pára.
Tudo pára para ver o homem negro tocando,
grandioso, do outro lado da luz
Tocando para quem o conduz.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Rita

Rita tem um quadro na parede da sala
Todos os dias ela o olha,
recordando do dia em que ganhou
As fotos saem amareladas
Mas Rita não se importa
Ganhou uma máquina fotográfica
Chora e ri com ela
Rouba pessoas
Rouba as jóias que sempre quis
Rita tem tudo
Tudo dentro de sua máquina

Rita chega em casa
Tira o casaquinho da cor da pele
Acende uma vela
E começa a cantar com o quadro e a foto amarelada
Da sua sala.

domingo, 30 de maio de 2010

Carta

''Há muito não escrevo a ti. Não é com você o problema, talvez comigo. Por onde acha que devo começar? Hum, ja ouço sua voz gritando '' pelo começo''. É, seria lógico mesmo, mas hoje vou começar pelo meio. Não exatamente, mas o meio do dia 30.
Acordei e tudo pareceu pastel. A cor da parede do quarto movimentara-se de tal forma que me comprimia os ouvidos e eu só conseguia sentir o amarelo entrando violentamente pelas retinas, sem pedir licença, dar ''bom dia''. Acordei mas não abri os olhos e quis chorar. O que está acontecendo comigo? As cores não me conhecem mais, o amor não me conhece mais ou eu não os conheco mais? Sabe, Maria, pensei muito em escrever para você. Já a pertubei tanto naqueles dias de chuva, falando das peças de lego que perdi quando meu primeiro cachorro se soltou. Foi um reboliço só. Ou ainda alugar seu ouvido falando do primeiro livro que ganhei do Drummond. Ahhh Maria... você não imagina em que me meti de novo. Presa, como antes, você lembra?
Isso me angustia, você sabe do que estou falando. Sabe aquelas passagens? Ainda as tenho. Posso ir agora e soltar de vez as palavras retidas ou continuar aqui e guardar meus poemas na gaveta do armário. 
As xícaras faziam tanto barulho que me perdi nelas, entre as colheres, a mulher lavando panelas. Acordar assim é muito perturbador, Maria.
Vou para o interior com você, viver o antigo amor, cantar a noite, sozinha, para as gotas que caírem do céu e ser surpreendida por ele atrás de mim, me entendendo e completando minhas frases. Quero ainda, Maria, acordar de manhã com um bom dia, uma xícara de café e o silêncio mais tagarelo que possa ter vivenciado. Uma vida calada, intensa, repleta de cor, sinfônia, filmes, livros.

Com amor, J.''

"- O trem está passando.''
''-Oh, obrigada!''

Joana selou a carta com a última gota da cola. Levou sua xícara e saiu correndo pelas ruas neblinosas daquela tarde.

sábado, 29 de maio de 2010

Numa dessas tardes, o livro fechara-se lentamente, dando mordidas indolores nos dedos.
O céu permanecera grandioso mas pequeno no reflexo da bola prateada.
A sua frente, todas as ilusões do mundo.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Café, noite e chico.
Pensar sobre todas as problemáticas filosoficas, letristas, sociais, emocionais, intimas, psicoticas. Cala a boca, mundo!

Quero de verdade poder olhar p lado, olhar p olhos miúdos que pedem por um sorriso, um abraço, uma palavra em francês. Tão pequena, mínima, clara.

To na porta. Olha pra mim!

sábado, 8 de maio de 2010

Meio dia

A barulheira deu lugar ao canto
Desci do ônibus, com a costa gritando
O SOl estava ríspido, grosso, quente
De repente lembrei da calmaria do conjunto, da simplicidade da infancia
E uma voz cantava uma cantiga, embalava o menino na rede
Cantiga para dormir, nunca ouvi. Não daquela forma
A silhueta ao longe, escura.
Mas de que importa o rosto quando a voz vomita o coração?

Cantava ao meio dia para o menino
Cantou para mim, acalmou meu coração
Fez-me dormir a tarde. Com aquela canção.
"[...] nascer em mim como num deserto uma flor"


Sinceramente, quero ir embora.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

As gotas caíam ferozmente nas costas. Estava chovendo desde a manhã, antes do nascer do sol. Nuvens negras e mal humoradas.

Há muito vinha me sentindo vazia, sem  inspirações e com a cabeça baixa. Lembrei do armário imposto pelo meu antigo psicologo, sei que me tornei paranóica alternando tons de voz com a mesma pessoas repetidas vezes e não conseguia parar de beber. É certo que preciso de ajuda, ou será que tenho dom para ser atriz? Não, atriz não. Seria matar a arte, vender-me para emissoras e chorar colírios em horário nobre. 
Fui para a varanda, estava cheia de folhas mortas e um grande lencol colorido cobrindo o espelho da antiga cama, esta já abandonada pelos antigos donos, sentei em algum lugar e acendi um cigarro (perdoem-me).
Não quero saber de nenhuma música, nenhum timbre de voz e muito menos de faces.
Minha vida está por um fio e estou farta dos olhares metidos.

E você, compactue comigo, compremos um Neruda, um bom disco de Sarah Vaughan, vamos sentar, beber e ver fotos de Marilyn Monroe. Não se importe com as costas, elas sempre estão perfuradas de céu.

segunda-feira, 29 de março de 2010

29 de Março

-"E foi assim mesmo, assim como a História conta.
Que se dane também, não vou seguir nada não.
Entrei nisso p ser justamente livre e não me venha falar asneiras não
É tudo a mesma coisa mesmo, música, literatura, piano, blues, cigarro e esses cabelos no meu colo.
MARIA! Cade minha dose de uísque?"

Foi só pousar a bolsa na cadeira a lado e sentar que um bombardeio de pensamentos foram lançados.
O sol estava escaldante do lado de fora do restaurante, sorte que tinha uns papéis e não precisei sair para compra-los. Não obstante, a tinta da caneta acabou, no nascimento do A.
Aquela carne cheia de brincos sentou-se e se apresentou. Não deveria saber o porquê e nem queria.
Era ele, eu sabia e ele também.

Ficamos ali, escrevendo e falando asneiras, bêbados.
Trouxe um maço de cigarros [que não fora consumidos, mas como estética, estavam lá. Charme parisiense] e uma garrafa de uísque.

Era um desconhecido até eu descobrir que ele tinha dentro dos olhos a mesma visão da mini biblioteca da rua Brasil.

segunda-feira, 15 de março de 2010

16.03

Cá te mando notícias, quando achas que volta?
Tu não sabes a falta que fazes, nesses domingos frios
Tenho notícias da mãe; está com saudades, manda um abraço a ti
Vó Zaber também, diz que está colhendo aquelas bananas pro teu doce
Tua mulher e filhas mandam beijos

Não mandas um cartão postal por que?
Se estiver sem bufunfa, manda um sinal que nós damos um aperto
Porque pra ti, tudo tem jeito

Homem de bom coração
Olhos límpidos e brilhantes
Quem há de ser o nosso protetor?

Quanto a mim, mando tua passagem de volta
Volta, porque tua falta dói por demais

Pretinho careca, precoce barrigudo
Tu estás aqui sim, aqui dentro
Em vossos corações
Que sabemos que é humilde
De terra batida
Mas de solo fértil



             Ao Tio [eterno e único] Valter, que como resposta, está chorando pelos céus comigo. Eu te amo, pra sempre, meu tio.

quinta-feira, 4 de março de 2010

último pensamento

Liguei a tevê e estava passando o seriado que sempre gostei de assisti.
Desliguei o áudio e aumentei o som.
Sem delongas e sem palavras complexas, era somente eu, as imagens e um som que entrava nas paredes.
Cara, como eu queria ter um gato que fala, uma biblioteca com livros até no chão, um ET que sempre me visita, três amigos para brincar todas as tardes, uma tia bruxa e um tio feiticeiro, uma grande árvore na minha sala, com uma cobra rosa que é doce, doce como a vozinha de duas fadas atrapalhadas ao alto, que divide o doce com o som suave de passarinhos músicos...
Ah! Que doce infância, doces palavras, brincadeiras
E de repente descubro que tenho tudo isto
É, eu tenho sim
Dentro de mim, no âmago que ninguém ousa chegar (e eu nem permito)
Tenho este mundo, só meu, somente meu
Egoísmo? E quem não é?
Infeliz daquele que nega

Tenho um mundo mágico só meu, somente meu

De repente, um passarinho pousa na minha cabeça
Passo a mão e olha!
Tenho um penteado estranho que nunca desce
Parece uma tímida árvore que nasce
Entre o caule dos meus cabelos


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

ÓCIO

Viu as notícias repetidas, deitada na cama. Havia visto as mesmas de manhã e pensara como se estivesse acabado de chegar do trabalho, cansada, com o blazer no antebraço, ligando a tevê. Só para acompanhar a notícia.
Uma fotografia em cima da mesa roubara sua atenção. Que homem! Sim, aquele único por quem ela perdera os sentidos, a razão, o coração.
''Por onde anda?''
Não sabia, mas decerto estava dentro de si, naquele órgão que acelerava os batimentos.
''Como eu o amo, o amo e ele nem deve imaginar o quanto''

Pôs o blazer em cima do sofá, consultou a cafeteira e nada tinha. Resolveu pôr café.

Havia visto tantos rostos nus mas nenhum que a olhasse e a pedisse um beijo
Naquele escritório com cheiro de papel picado, ar condicionado ( ou condicionador de ar, como preferem os puritanos) telefones que gritam por socorro.
''Que doido''
Sim, que doido e todos os dias ela vivia isso. E gostava.

Abriu a porta da varanda, respirou as nuvens, o céu e um barulhinho ao longe.
O café está pronto. Meu amor está me esperando.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Diário

''Em certo momento, deveria ter parado, contido as palavras que haveriam de sair da alma.
Talvez aquela desilusão fosse certa. Ou não.
O certo é que acendi um cigarro e vejo que tudo o que aconteceu, se dissolve em cada cinza que queima minha meia calça.
Alguns méritos, alguns sorrisos amarelos, alguns toques tímidos,
Será que aquela passagem para Paris ainda está valendo? Será que quem eu espero existe?
Não aguento mais isso, meu cigarro contado e a garrafa de uísque já acabou. Não sou viciada, uma garrafa por semana já me basta.
Não compro mais livros, mas ainda carrego o sonho daquela biblioteca.
Já tenho 19 anos. Deveria arrumar um emprego. Ouvi falar que na rua 15 de Janeiro estão distribuindo vagas.
Mas meu salto quebrou. Acho que ainda tenho uns trocados.
-Não grita perto de mim!''

E o menino vai-se, longe, gritando por doces

Não quero ver tv esta noite.Nunca mais.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

blé

Ando cansada (mais que nunca) desses ativistas que são tão simpáticos atrás de uma tela de computador, mas que não levanta o pescoço, sozinho, a frente de um parlamentar. Estou cansada dessa farsa, hipocrisia.
Vi o noticiário local, as palavras curtas e limitadas dos comentaristas que em sua jornada sempre foram fervorosos. Cadê a voz do povo?
Tudo manipulação, mordaças.
Não, eu não tenho medo de ser uma formiga no meio de gafanhotos, e não mesmo.
Grito na rua, na chuva, no sol. Grito pela falta d'água, cuspo mesmo na cara de quem for.
Todos iguais.
Malditos comilões de carne mal assada, dos passeios nos shoppings e as madames com seus cabelos alourados de tinta paga por mãos calejadas.
Estou cansada dessa babaquisse, da voz surda.
Letrada, revoltada.
Que todos vão para o inferno e que o mordomo  alourem mais ainda seus cabelos e arrumem seus ternos sujos de babas de ovos!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Deixa me perder em alguma tinta que circula nas suas mãos?
De cima dos castelos do centro, com a tevê ligada
Alguém falando alguma coisa sobre política
O filete da sua voz me enrolando
E eu. Olhando para as tintas nas suas mãos.

Odeio-te, amo-te.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Reflexos

É madrugada, tenho ao meu lado um livro de poesias
Vinicius de Moraes e um grande amor
Mas não quero saber de amor, não esta noite
Não consigo dormir
E meus olhos não se encontram
Vou ao banheiro, lembro de alguma poesia semelhante
E copio
Copio na mente insana que fervilha entre  mil palavras
Qual delas escolher?
De repente lembro que estou em frente ao espelho, parada
Bagunçando os fios de cabelo atrás de algo entre eles
Os olhos estão caídos, olheiras fundas, olhos profundos
A vida passa, a pele muda, os olhos mudam
Lembrei da minha juventude, da liberdade e do presente
E agora, estou aqui, buscando entre os fios que embaralham meus olhos,
O meu presente
Já encontrei, disto é certo
Beijo o reflexo, narcisista sim
Com os fios de cabelos bagunçados, os olhos fundos, as olheiras e os labios desbotados,
Arranca desta face um sorriso pequeno, tímido

Quantos, além de mim, pensa no futuro de uma nação?

sábado, 16 de janeiro de 2010

Um brilho ofusco se engrandece no meio de tantos.
Odiava aquele verde que persistia em cruzar meu caminho, seja em dias ensolarados ou noites clássicas.
Não, não deveria abrir meus olhos, nem sentir aquele princípio de bondade que invadia meus sentimentos e confundia com o ódio forçado, do ciúme exagerado. O tempo, este velho ancião, ria de mim, saudoso, com as bochechas rosadas e o riso alto, leve. Quem se importa com dias quando se prevê o futuro?
Hoje cá estou, entre tristeza e o âmago pequeno. Não falarei de coisas grandes, porque o significado disto é imensurável que nem pequenas palavras ousam despertar.
Os pequenos e venosos animais compactuam e se misturam com o verde.
-Olhe!
E meus olhos se confundem, entrelaçam. Não devo me controlar, não.
Almas complementares, que as bocas falem o que quiser! Os ruídos que se confundem com sinfonia.
Flores grandes, árvores majestosas e eu em companhia de um elemental.

Ela vai indo e atrás de si, a luz majestosa. Sobrará em seu lugar o  glitter e o verde.
Silêncio.
De fato, sou assim. Não sei se branda ou pequena. Mas sou assim.
Bem, creio que a maioria das pessoas são assim. Escondo-me entre lençóis de manhã, rejeito o sol nos olhos, acordo às 13h, dando bom dia.
Escondamos nossas fotografias, sejamos viajantes. Viajantes introspectivos. Creio que esta raça seja a mais bela e interessante, nessas ruas não há outdoors esparrando que lêem livros de filosofia ou têm uma camera de fotografia em suas bolsas... Ora, derretamos na chuva, serenos, pequenos, grandes, sorridentes.
As meninas continuam na rua, com peles alva, cabelos presos e engaioladas. Fechem suas bocas, suas vadias!
Não quero saber de sua banda do momento e nem da sua roupa style.
Abra a cortina dos seus olhos, escreva sobre a janela, a janela do meu apartamento.
A madrugada amiga, meu amante nu, na cama com entorpecentes mentais.

Não me venha querer por palavras na minha boca, meu espelho não se refere à todos.




Borboletinhas, formigas, uma caba que pousa sem ferrar e o verde deslumbrante... dos silfos

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O que será que se esconde por trás das cortinas
Enquanto formas são formuladas?
O que será q se esconde por trás das vitrines
dos manequins, no negro?

Eu escondo palavras num caderno moribundo, leio com mendigos, sem distinções
Sem raças

O simples, o simples não complicado

Dia

A energia se foi
A paciencia esgotou
O dia foi claro, chuvoso
Nublado, choroso
Não, não quero sorrisos
Quero paz
Quero que esse canudo sáia de perto de mim

Li Vinicius de Moraes, a pracinha, os namorados
O amor que penetra na alma, no verde
Vi Vinicius escrevendo
Vi Vinicius fazendo o meu Vinícius
Com acento, por favor!

Quero a varanda do meu apartamento lilás
Sentar no chão e sentir o senhor Vento,
Enxendo as bochechas para saudar-me
O verde da silfa em volta
E o sentimento de... PAZ

Cade o Chico Buarque nessas ruas frias de Buenos Aires?