quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Noite

-Eu preciso de um cigarro. Acho que eu vou pedir férias.
-Mas já?
-Já, cara... a situação tá foda por lá. Melhor sair enquanto é tempo
-Passiva.
-Não, sou realista. Não dá, não dá, paciência.

Virgínia andou o centro todo. Num sol solitário da meia-noite. Caiu inúmeras vezes. -Ao menos ninguém viu.
Comentou sobre a mudança de sua letra e a melhora do ar nos últimos tempos.
Tentou sentir alguma coisa. Não conseguiu. Foi ao porto, lembrou que a água era suja. Mas de que importa? Ela ia fingir que também não iria sentir a sujeira.
Hoje, só por essa noite, só mais essa noite, queria morrer pra viver. Brotar numa tarde nublada de quinta-feira.
Olhando aquelas velhas folhas no telhado transparente da sua avó. Sentir o cheiro de café fresco disputado por ninguém. Iria morrer nas ruas fétidas do centro, entre os escombros de uma mansão.
Seria Rainha. Rainha do inverno. Inferno.
Viu um cachorro e como desejou se-lo... Ah esses compromissos sociais.
Sentiu as agulhas que caíam do céu. Hoje era o dia de se dissolver na água.

Amanhã, ia acordar anestesiada. Nada aconteceu. Nada ia mais acontecer.

Sentiu o sangue saindo dos seus olhos.

Fechou a janela.

Virgínia. Virgínia.

sábado, 5 de novembro de 2011

-Por que?
-Por que o quê, criatura?
-Tá de sacanagem comigo?
-Eu não, tu quem tá tirando uma com a minha cara.
-Pára com isso
-Pára tu.
-Solta o teu cabelo?
-Só se soltar o teu medo.

Desceram, tomaram uma dose de cachaça e voltaram para o apartamento. De mãos dadas.