segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Noite de Outubro

Eu tava lá, sozinha na parte mais escura da praça esperando por um olhar. Luzes que iluminam a parte mais escura da cidade e tenta, a todo custo, a embelezar. E convenhamos, consegue. As crianças e suas bicicletas, brinquedos luminosos que saltavam e balões coloridos, lembraram a minha infância... O dia em que eu descobri que depois da meia noite não era mais hoje e sim ontem, o amanhã que chegara antes do tempo. No meu mundo. A brisa gelada que dava boa noite, olhares perdidos, boemios...

-Bem que Chico Buarque poderia cantar pra mim agora. Pensei

E cantou... Graduando de voz, como quem quer chamar a atenção. Sem pensar muito, corri para o banco mais próximo, abri uma bebida, fechei os olhos e senti cada timbre entrando em mim.
O velho me olhava. Olhou para os meus cabelos. Ele estava sozinho, de pernas cruzadas.
O ambulante, cansado, parou e sentou-se. As bungigangas refletiam no rosto cansado.
Chico cantou para nós.

Olhei para mim, o velho e o ambulante. Classes diferentes unidas numa noite de lua cheia.
Só a poesia salva. Essa frase marcou a minha noite.

O olhar luminoso chegou.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Ao Grilo.

"Só uma palavra me devora: aquela que meu coração não diz"

To aqui, deitada de bruços, ouvindo um grilo a cantar. Fazia tempo que não ouvia um grilo cantar dentro de casa... e nem estou chateada por isso. Quando era menor, ouvia sapinhos coacharem e fechava os olhos. Imaginava-os na aurora da noite, cantando, pulando, aproveitando cada segundo do sereno. Eu era uma criatura invisível espionando a alegria deles. Nesses últimos dias, muita coisa mudou. Confesso aos meus dedos que não estou feliz com quase ninguém. Poucas (conto nos dedos de uma mão só) eu queria hoje, aqui comigo, ouvindo esse grilo cantar.
Poderia faze-las fechar os olhos e penetrar no timbre desse bichinho. Céus, um insetinho que me faz ouvir do quarto a sua voz. Uma coisinha pequena que pode ser morta num piso, querendo dizer que existe. E conseguindo. Grilo, você não precisa se calar... cante até você não conseguir mais. Eu quero fechar meus olhos e imaginar onde voce está agora. Escondidinho, cantando pro mundo, pros meus ouvidos. Ninguém vai te fazer mal... você canta e eu ouço. Posso até mesmo me atrever a te procurar, mas prometo que só quero olhar pros seus olhinhos pequenos e dizer que não vou te fazer mal. Assim como os passarinhos matinais da Universidade. Pulam, pulam, pulam, pula aqui também, na minha cabeça.
Eu só quero poder ter o prazer de ouvir os grilinhos, sapinhos, passarinhos, lagartas roxas, verdes, atravessarem o meu caminho. Todos os dias. Mesmo que no final de tudo eu fique no quarto ou parada olhando.
Eu quero escrever sobre a vida que ninguém  quer saber.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Mergulho

Eu quero morrer nos teus versos únicos, pequenos e intensos
Como aquela nossa música sem refrão
Que ouvimos tantas vezes juntos
Aquela música de 2 minutos que grita, aos prantos, o que nosso coração demorou anos para dizer
Quero esses olhos grandes e profundos em cima de mim
Que tu entre em minha alma, rompa meus olhos
E beba do meu éter, sangue, da minha água
Que tu levantes minha mão e a beije
O último beijo antes de se molhar na chuva
Eu quero você assim, bandido, cheio de amor e esse olhar intenso
Que vomita palavras embebidas de melodias.