segunda-feira, 19 de julho de 2010

Harold

Sinto que tem alguém aqui. É, tem sim. Ouço a respiração, os passos e os olhos de vidros atrás de mim.
Apareca! Mostre-se seu covarde!
Uma batida na janela. Olhos dilatados.
Vamos, eu sei que você está aqui, eu sinto, saia daí. AGORA!

Silêncio na porta e Harold continua sozinho, na penumbra na casa mal arrumada.
Alguém do lado de fora ouve o barulho e de longe avista a silhueta trêmula e confusa. Chega perto mas arrepia-se. Oscila e anda em ré, sai correndo.

Não sinto minhas mãos, eu o vejo mas ele não se mexe. Por que diabos ele está me olhando? Tenho que me esconder, esquivar, ele lancará sobre mim mosquitos e gafanhotos. Uma das pragas do egito irá se assombrar sobre mim.
Ó não, o leão, ele está aqui! Está despejando água sobre mim, não, saia, saia, SAIA!

Harold se contorcia no chão, arranhava a madeira com as unhas quebradiças. Pequenos pedaços de retinas eram desperdiçados, cabelos soltos no tapete e cortina.

"Saia, saia! Você é um louco!"

Harold gritou durante a noite toda, pela manhã foi achado no chão com os olhos vidrados banhados de água e algo nos umbrais...

NUNCA MAIS.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O dia do sonho verde

Ás vezes, por alguns motivos exteriores, penso que ninguém gosta de mim. São apenas pessoas que falam coisas p me agradar, tentar, quem sabe, tirar algum proveito. Passo a olhá-las nos olhos, por cima da cabeça, o balançar das pernas quando estão perto de mim e a voz que (as vezes) chega a tremer. Uma desconfiada nata.

-Por que tenho que pensar isso das pessoas,mãe?
-Não é necessário pensar, filhinha. Simplesmente algumas pessoas são assim, exageradas. Mas isso não quer dizer que elas não amem você.
-Então por que penso isso delas?
-Porque você deixou de acreditar no amor que sente por si.
-É.

Hoje,senti o olhar das palavras e gestos ocultos, pequenos e grandiosos de pessoas que me amam. Sem ter que falar toda hora para provar ou ter que se jogar no meio dos carros p eu passar. O amor que mostra o fio de cabelo branco crescendo, no meio da escuridão das minhas ondas. Os olhos que brilham e sorriem quando eu abro a porta da sala de aula, corre para perto de mim e me dá bom dia. Só para mim. O amor que não precisa ter um motivo para existir. Talvez tenha: o encantar das auras.

-Iza, Iza, Iza, Iza. Já disse que amo seu nome?
-Eu odiava quando era pequena.
-Não, eu não acho.
-Você tem os sapatos mais lindos, os olhos mais brilhantes e a voz mais suave que eu já ouvi.
-Fiquei feliz por tê-la visto.

Às pessoas que não precisam de um motivo para me olhar e me entender, nem que seja 1%. A todos que não precisam de complexidade para me amar. Eu não preciso saber, mas deixem que eu continuem sentindo essa mesma aura e esses olharem sorridentes. Deixem eu ainda poder SENTIR o coração de vocês. Este sim, é um velho Buk. Não  dá p estampar palavras bonitas na frente de um coração sujo.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Coração na mão

Li metade do livro sem dar conta que tinha lido mais do que era o planejado. Ora, isso não importa, estava lendo,  mumificada com as letras, com o drama. Por um momento me senti como o protagonista, alimentando um amor sublime pela ninfeta, esta tão pobrezinha e pequena.
Eu sou sim este velho que nunca amou na vida e já perto da morte se depara com ele ali, parado em posição de ataque e calmaria, o amor.
Meu bem amado que atravessou meu caminho do nada e no ato não imaginaria por quanto tempo iria durar. E continuo pensando, por mais que 1 ano tenha se passado e mesmo rompidos, ainda ouvir os murmurinhos sobre ele, as perguntas incansáveis como ele está e os fatos diários que insistem em lembrar de vossa presença. 
Por um momento chego a pensar que nada tenho, nada tive e nada terei. Lembro que antes do dia de glória, pensava o que seria do futuro. O que seria se eu, desprovida de amor, iria permanecer por muito tempo. O futuro, este inconstante, sempre mostrava-se branco e só depois de algum tempo, lendo em um livro (estes fiéis que parecem adivinhar meus passos), entendi a brancura de dias próximos.
Estaria neblinado e fugaz, até o destino tirar a capa e mostrar o verso pintado de dias ensolarados e estrelas cadentes. Cada estrelinha, um pedido, um a um sendo realizado.
A vontade incansável de sair pelas ruas cantando, baixinho, alto, beijando as flores, faces, recitando os versos compostos na hora, quentinhos, como pães de queijo feitos no final da tarde. Sair para fechar a janela e me deparar com o céu amarelo em pleno fim de dia, horário sagrado, o chão amarelo! Cadê minha máquina fotográfica? Não, deixe-a lá, você precisa guardar isto somente entre você, seus olhos e seus versos. Algumas coisas são tão bonitas que seria impossível reproduzi-las. Como o amor que eu sinto pelo céu, pela cantiga de ninar, pelos contos de fada, pelas pessoas que eu conheco e as que eu nunca conhecerei, pelo meu amor... este tão grandioso e paciente. Mesmo em meus dias de impaciência.