domingo, 30 de maio de 2010

Carta

''Há muito não escrevo a ti. Não é com você o problema, talvez comigo. Por onde acha que devo começar? Hum, ja ouço sua voz gritando '' pelo começo''. É, seria lógico mesmo, mas hoje vou começar pelo meio. Não exatamente, mas o meio do dia 30.
Acordei e tudo pareceu pastel. A cor da parede do quarto movimentara-se de tal forma que me comprimia os ouvidos e eu só conseguia sentir o amarelo entrando violentamente pelas retinas, sem pedir licença, dar ''bom dia''. Acordei mas não abri os olhos e quis chorar. O que está acontecendo comigo? As cores não me conhecem mais, o amor não me conhece mais ou eu não os conheco mais? Sabe, Maria, pensei muito em escrever para você. Já a pertubei tanto naqueles dias de chuva, falando das peças de lego que perdi quando meu primeiro cachorro se soltou. Foi um reboliço só. Ou ainda alugar seu ouvido falando do primeiro livro que ganhei do Drummond. Ahhh Maria... você não imagina em que me meti de novo. Presa, como antes, você lembra?
Isso me angustia, você sabe do que estou falando. Sabe aquelas passagens? Ainda as tenho. Posso ir agora e soltar de vez as palavras retidas ou continuar aqui e guardar meus poemas na gaveta do armário. 
As xícaras faziam tanto barulho que me perdi nelas, entre as colheres, a mulher lavando panelas. Acordar assim é muito perturbador, Maria.
Vou para o interior com você, viver o antigo amor, cantar a noite, sozinha, para as gotas que caírem do céu e ser surpreendida por ele atrás de mim, me entendendo e completando minhas frases. Quero ainda, Maria, acordar de manhã com um bom dia, uma xícara de café e o silêncio mais tagarelo que possa ter vivenciado. Uma vida calada, intensa, repleta de cor, sinfônia, filmes, livros.

Com amor, J.''

"- O trem está passando.''
''-Oh, obrigada!''

Joana selou a carta com a última gota da cola. Levou sua xícara e saiu correndo pelas ruas neblinosas daquela tarde.

sábado, 29 de maio de 2010

Numa dessas tardes, o livro fechara-se lentamente, dando mordidas indolores nos dedos.
O céu permanecera grandioso mas pequeno no reflexo da bola prateada.
A sua frente, todas as ilusões do mundo.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Café, noite e chico.
Pensar sobre todas as problemáticas filosoficas, letristas, sociais, emocionais, intimas, psicoticas. Cala a boca, mundo!

Quero de verdade poder olhar p lado, olhar p olhos miúdos que pedem por um sorriso, um abraço, uma palavra em francês. Tão pequena, mínima, clara.

To na porta. Olha pra mim!

sábado, 8 de maio de 2010

Meio dia

A barulheira deu lugar ao canto
Desci do ônibus, com a costa gritando
O SOl estava ríspido, grosso, quente
De repente lembrei da calmaria do conjunto, da simplicidade da infancia
E uma voz cantava uma cantiga, embalava o menino na rede
Cantiga para dormir, nunca ouvi. Não daquela forma
A silhueta ao longe, escura.
Mas de que importa o rosto quando a voz vomita o coração?

Cantava ao meio dia para o menino
Cantou para mim, acalmou meu coração
Fez-me dormir a tarde. Com aquela canção.
"[...] nascer em mim como num deserto uma flor"


Sinceramente, quero ir embora.