domingo, 4 de dezembro de 2011

Eu me encanto por tudo aquilo que não pode ser expresso em palavras
O encanto dos gestos, dos olhares, das salivas, das energias
Por ele
Mesmo quando o mundo resume-se em um quadro preto e branco
Ele está lá
E basta me olhar para que tudo ganhe cor
Como uma trapaça teatral
Como a tinta que cai sob os meus cabelos
Quando ele entra em cena
Arrancando meus eus
Desafiando-me
Despindo-me
Encantando-me

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Noite

-Eu preciso de um cigarro. Acho que eu vou pedir férias.
-Mas já?
-Já, cara... a situação tá foda por lá. Melhor sair enquanto é tempo
-Passiva.
-Não, sou realista. Não dá, não dá, paciência.

Virgínia andou o centro todo. Num sol solitário da meia-noite. Caiu inúmeras vezes. -Ao menos ninguém viu.
Comentou sobre a mudança de sua letra e a melhora do ar nos últimos tempos.
Tentou sentir alguma coisa. Não conseguiu. Foi ao porto, lembrou que a água era suja. Mas de que importa? Ela ia fingir que também não iria sentir a sujeira.
Hoje, só por essa noite, só mais essa noite, queria morrer pra viver. Brotar numa tarde nublada de quinta-feira.
Olhando aquelas velhas folhas no telhado transparente da sua avó. Sentir o cheiro de café fresco disputado por ninguém. Iria morrer nas ruas fétidas do centro, entre os escombros de uma mansão.
Seria Rainha. Rainha do inverno. Inferno.
Viu um cachorro e como desejou se-lo... Ah esses compromissos sociais.
Sentiu as agulhas que caíam do céu. Hoje era o dia de se dissolver na água.

Amanhã, ia acordar anestesiada. Nada aconteceu. Nada ia mais acontecer.

Sentiu o sangue saindo dos seus olhos.

Fechou a janela.

Virgínia. Virgínia.

sábado, 5 de novembro de 2011

-Por que?
-Por que o quê, criatura?
-Tá de sacanagem comigo?
-Eu não, tu quem tá tirando uma com a minha cara.
-Pára com isso
-Pára tu.
-Solta o teu cabelo?
-Só se soltar o teu medo.

Desceram, tomaram uma dose de cachaça e voltaram para o apartamento. De mãos dadas.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Suzana

Meia Noite. O salto quebrou. O dinheiro acabou. Marília tinha perdido o número do carinha que conhecera noite passada. Perdida no centro de Manaus, com o nariz dolorido e os pés sujos.
não tinha para onde ir, não queria ter para onde ir.
Dane-se o que iriam pensar dela. Uma advogada bem sucedida, dona de propriedades na capital e no interior, conhecida entre a sociedade.
Suzana não queria saber de nada nesta madrugada. Vagou entre as prostitutas, os mendigos, bêbados, conheceu a visão soturna de uma cidade quente e vazia. Cheirou o fétido Rio Negro na negritude do Porto.
Caiu na sarjeta da Avenida Eduardo Ribeiro.
Suzana. Bem sucedida. Conhecera-se nesta noite.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

7 de Julho

A.L voltou a si quando alguém pronunciou seu nome; L., você não concorda? Sim, claro, estou de acordo.
A.L concordava com tudo. Só queria que ela também concordasse com ele.
"Tudo o que eu quero é ter seu amor, genuinamente, o seu amor"

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Lola

Sabia
Gosto de você chegar assim
Arrancando páginas dentro de mim
Desde o primeiro dia
Sabia
Me apagando filmes geniais
Rebobinando o século
Meus velhos carnavais
Minha melancolia
Sabia
Que você ia trazer seus instrumentos
E invadir minha cabeça
Onde um dia tocava uma orquestra
Pra companhia dançar
Sabia
Que ia acontecer você, um dia
E claro que já não me valeria nada
Tudo o que eu sabia
Um dia

Chico Buarque

sábado, 28 de maio de 2011

Laurine

Como de costume, Laurine sempre saía nas noites de Manaus sem rumo algum. Todas as noites era a mesma desculpa: ia ver o caos do  anoitecer do centro da cidade. Morava sozinha numa casa modesta, onde fazia questão de não ligar todas as luzes. 
Numa noite de abril, Laurine resolveu ir além. Andou pelos bares de Manaus. Usara uma peruca e roupas curtas e escuras. Queria sentir-se uma prostituta, uma jogada no mundo. Pediu a mesma cerveja em três bares distintos com um cheiro de suor misturado com peixe.
Laurine não se importava, não se importava com as botas sujas de lama e nem com as tentativas daqueles homens em tocar seu corpo.
Cansada, resolveu sentar no largo. Era uma prostituta aquela noite, pensara, daqui a alguns segundos algum guarda irá me expulsar. Já passava da meia noite. Havia apenas algumas poucas pessoas atravessando a praça, quando um homem sentou-se ao seu lado.
-Quanto é o programa?
Laurine sentiu seu estômago revirar. Deve ser a porra dessa cerveja, pensou.
-Cinco. Tem camisinha aí?
Laurine olhava nos olhos do homem. Sentiu uma dor intensa, como se seus ossos fossem quebrar.
-Eu sei que você não é garota de programa. Já te vi por essas redondezas. Abre o jogo comigo."
-Bem, já passa da meia noite, não te conheço,já dei meu preço...
-Então começa a se vender
Laurine abaixou a cabeça e riu. Não conseguia conter aquela dor misturada com alegria.
-Eu queria ir embora, sabe...
-Pra onde?
-Sei lá, pra qualquer lugar.
-Qualquer lugar? 
-Como assim?
-Porra, qualquer lugar, você não entende?
-Tá, desculpa.
-Tá, desculpa também. Acho que bebi demais.
-O que bebeu?
-Três cervejas
-Só isso? E já tá bêbada?
-Não enxe.
-Tudo bem
Ficaram em silêncio por longos 4 minutos.
-Eu desejo um coração que não é meu.
-Eu também.
-Ela sabe?
-Não.
-Nem o meu.
-Você tem cigarro aí?
Laurine abriu o estojo e ofereceu um hollywood ao desconhecido. Fumaram juntos, ouvindo uma canção qualquer ao fundo, sentindo o sereno da madrugada. Não correspondera às tentativas de conversa do desconhecido. Ali no canto do Largo São Sebastião haviam dois corações em prantos, pequenos, amordaçados. Ficou lá por algumas horas, saiu sem dirigir a palavra ao homem.
Chegou em casa, ligou uma lâmpada e chorou. Chorou até seu coração gritar, até a última gota de água.
Não era a única.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Noite da semana

Um restinho da noite
Um coração endividado
Um bocado de solidão
E todos os anseios e amor da alma humana...

quarta-feira, 16 de março de 2011

Gota d'água

Sabe aqueles dias em que você acorda com a pupila dilatada, o coração na mão e uma música na palma da mão? Hoje foi mais ou menos assim. O prazer de olhar o íntimo das pessoas que eu nem conheco e me sentir invisível. Como quem tem o dom de descobrir a vida de alguém com um olhar.
Esse balde misturado de sentimentos, formou uma bola dentro de mim e eu não consegui fazer nada, além de sentir junto com Drummond as dores deste mundo.
Ou eu amo demais ou vomito demais.
E eu gosto de ser essa gota d'água em dias de sol.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Sorrir

Na bagunça do ônibus, vim pensando quando foi a última vez que dei um sorriso de verdade, daqueles que a alma sorri junto.  É, fazia algum tempo. Mas então, como era gargalhar às pressas?
Lembrei da infância com minhas primas. A despreocupação com o cabelo, a roupa, a cárie do dente. Falavamos besteiras não pra machucar, mas para se divertir. Rir de um corte de cabelo, rir de um gesto, rir da roupa da vizinha, das aulas cômicas do professor de matemática... rir. Rir sem se preocupar se alguém vai achar ruim em ouvir as gargalhadas no meio da rua. Rir na hora do rush, num ônibus lotado. Rir de olhar pro rosto dela e ver que ela está comigo, me fazendo rir.
A gargalhada que alimentava a alma.
O ônibus parou e vi uma garotinha rindo. Uma gargalhada tão gostosa que não queria nem saber o porquê, só queria sentir. Sorri junto e lembrei que não fazia tanto tempo assim que meu coração transbordou de tamanha alegria. Como naquele momento.
Gargalho quando sinto amor perto de mim.
Dar um sorriso verdadeiro, daqueles que a gente sorri sem perceber, como a gente faz nas cenas românticas dos filmes. Eu sorrio todas as vezes que criaturas iluminadas chegam perto de mim.
Meu coração dói de tanta alegria. Dá um frio no estômago, não importa se estou bem vestida, se o cabelo está em ordem, eu sorrio.
Sorrio pra afastar a tristeza, sorrio pra dizer que amo.
Sorrio porque estão perto de mim.
Descobri o verdadeiro sentido de sorrir aos 20 anos. Num ônibus.
Minha  alma gargalhou até eu sentir as borbulhas do meu coração transbordar.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Final do dia

Morreu, na manhã de um dia importante. Ela sabia que aquele dia muita coisa ia ser decidida.
Preferiu morrer.
Morreu por fraqueza, pela face cansada de sorrir
Pelas cordas vocais arrebentadas
A mente continuava, essa velha amordaçadora

Chorou no final do dia, sozinha, como queria.
Amanha há de ser um novo dia
Sempre é um novo dia.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Eu quero ser assim. Não me interessa revoluções utópicas e nem quero ser caçadora da verdade. Me contento com o brilho de pequenas coisas, o brilho do amanhecer que entra de mansinho pela brecha da cortina do meu quarto. O brilho tímido que sauda e diz que é um novo dia. Quero o amor descontrolado dos amantes.
Eu quero viver assim. Pequena mas brilhante.
Quero ser como  o inseto verde que brilha numa imensidão cinza. Quero chegar como ele chegou em mim; agarrando as pernas, caindo na cinza e mesmo com um baque, mostrando o brilho. Vivo do meu modo, mesmo suportando a morte que me desejam. Eu quero ser o brilho que aparece num dia chuvoso.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Vinho

Sabe quando a gente tem um dia morno? Naquele dia foi assim. Acordei às 14h e esperei mais 1hora para me arrumar,enfim, e ir pra lá.  Foi uma das noites que mais sinto saudade da minha vida. Uma noite quente, fria, na verdade eu nem quis sentir direito o clima.
Adriana Calcanhoto cantava ao fundo, baixinho, palavras de amor misturadas com nossas lembranças. O vinho vinha mansinho, adocicando nossas bocas. As taças negras e brancas ouvindo nossas confissões. Eu sei que jamais irei ter aquela noite. Assim como as outras. Todas passadas com eles. Deveria ter dito que os amava, ali? Não... eu ia me rasgar.  Deixa ele correr solto, grandioso. Três mulheres e um moço. Cabelos enrolados, pele branca, morena, sorrisos largos e verdadeiros. Eu poderia morrer naquele momento, sentindo a face romântica e poética deles.

Dois B's, dois I's. Amo-os.

No final, o vinho não era os dos melhores... mas quem se importava?

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Ruas


Eu quero sair
Nas noites de garoa
Dessa cidade que não conhece o amor despreocupado
Eu quero andar sob as luzes coloridas que nascem nas sarjetas do centro
Nas grandes avenidas
Entre os carros que vão para algum lugar
Pra onde?
Eu quero fechar os olhos, abrir a boca e devorar esse ar
Uma bolha de água nos meus cabelos
Quero sentir tudo o que os grandes poetas sentem
A solidão ou a alegria, eu não me importo
Quero apenas sentir o que deveras devo.
As duas faces, sem nenhum medo

Sem nenhuma vergonha, nessas ruas de via dupla.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Hino Órfico a Hécate


“Eu lhe exalto, adorável triforme Hécate Enodia,
velada em açafrão, de Céu, Terra e Mar,
que celebra a Bacanália na tumba,
com as almas dos mortos;
filha de Perses, amante de solidão, honrada com bolos,
noturna, protetora dos cães, soberana invencível,
anunciada pelo rugido das bestas selvagens,
rainha portadora das chaves de todo o cosmos."

Que neste novo ano civil, você, minha Senhora, tome conta dos meus pensamentos, ações e emoções. Afasta tudo que possa me afetar de forma maléfica e ilumina minha mente com tua tocha para os bons caminhos. 
Neste ano, entrego mais uma vez minha vida em tuas mãos sábias, minha Senhora. Dá-me forças e sabedoria para levar teu nome adiante, para que sejas reverenciada e respeitada novamente!

À Hécate, minha honrada e amada Deusa.