quarta-feira, 18 de abril de 2012

Virgínia II

Manhã ensolarada. Virginia, na porta do apartamento, tentava encontrar as chaves na bolsa. Tirou metade das coisas que trazia da viagem. Foi à Barcelona. Trazia nos cabelos os resquícios do vento europeu. Sentia as mãos diferentes tentando alcancar o molho. Achou no fundo, como se fosse o ultimo objeto a ser despejado na imensa bolsa verde.
Abriu a porta, jogou as coisas no ainda embalado sofá. Lembrou-se que havia mobiliado o apartamento recentemente. Haviam caixas espalhadas no branco azulejo do chão e móveis mal arrumados. Rasgou o plástico do sofá, cheirou-o e deitou o rosto enterrado nas almofadas. Virgínia queria saber pra onde iria dessa vez. Paris, será?
Não... teria que ter mais essa viagem, chegar com a perna engessada e aí sim ir ao sonhado destino.
Quando criança, imaginava-se cheia de panos escuros olhando as movimentadas ruas parisienses. Via-se nos cafés, olhando tudo a sua volta. Nem precisava andar. Só queria olhar. Sempre teve aqueles olhos grandes e expressivos. Quis acender um cigarro, mas lembrou que parou de fumar.
Então, pôs-se a chorar. Chorou a noite toda, sentindo a almofada com cheiro de plástico. Virou-se, olhou o teto branco, a luminária de cristal. A visão embaçada não permitia observar detalhes. Sabia que estava sozinha. Mais uma vez. Levantou-se, limpou os olhos e se maquiou.
Virgínia usava botas pretas. Queria voltar sem elas.

Saiu, colocando as chaves no bolso.
Voltou três dias depois com uma casca no coração e um enfeite no cabelo.
Os móveis ganharam vida.
Viajou para Paris.

Nunca mais voltou ao Brasil.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Eu não peço nada não, seu moço

Eu não peço nada não, seu moço
Só quero um cadim desse açúçar e uma dosinha de amor
Eu não peço nada não, seu moço
Prometo ficar calada
Até meu coração gritar de agonia

E sumir no primeiro raio de sol