sábado, 28 de maio de 2011

Laurine

Como de costume, Laurine sempre saía nas noites de Manaus sem rumo algum. Todas as noites era a mesma desculpa: ia ver o caos do  anoitecer do centro da cidade. Morava sozinha numa casa modesta, onde fazia questão de não ligar todas as luzes. 
Numa noite de abril, Laurine resolveu ir além. Andou pelos bares de Manaus. Usara uma peruca e roupas curtas e escuras. Queria sentir-se uma prostituta, uma jogada no mundo. Pediu a mesma cerveja em três bares distintos com um cheiro de suor misturado com peixe.
Laurine não se importava, não se importava com as botas sujas de lama e nem com as tentativas daqueles homens em tocar seu corpo.
Cansada, resolveu sentar no largo. Era uma prostituta aquela noite, pensara, daqui a alguns segundos algum guarda irá me expulsar. Já passava da meia noite. Havia apenas algumas poucas pessoas atravessando a praça, quando um homem sentou-se ao seu lado.
-Quanto é o programa?
Laurine sentiu seu estômago revirar. Deve ser a porra dessa cerveja, pensou.
-Cinco. Tem camisinha aí?
Laurine olhava nos olhos do homem. Sentiu uma dor intensa, como se seus ossos fossem quebrar.
-Eu sei que você não é garota de programa. Já te vi por essas redondezas. Abre o jogo comigo."
-Bem, já passa da meia noite, não te conheço,já dei meu preço...
-Então começa a se vender
Laurine abaixou a cabeça e riu. Não conseguia conter aquela dor misturada com alegria.
-Eu queria ir embora, sabe...
-Pra onde?
-Sei lá, pra qualquer lugar.
-Qualquer lugar? 
-Como assim?
-Porra, qualquer lugar, você não entende?
-Tá, desculpa.
-Tá, desculpa também. Acho que bebi demais.
-O que bebeu?
-Três cervejas
-Só isso? E já tá bêbada?
-Não enxe.
-Tudo bem
Ficaram em silêncio por longos 4 minutos.
-Eu desejo um coração que não é meu.
-Eu também.
-Ela sabe?
-Não.
-Nem o meu.
-Você tem cigarro aí?
Laurine abriu o estojo e ofereceu um hollywood ao desconhecido. Fumaram juntos, ouvindo uma canção qualquer ao fundo, sentindo o sereno da madrugada. Não correspondera às tentativas de conversa do desconhecido. Ali no canto do Largo São Sebastião haviam dois corações em prantos, pequenos, amordaçados. Ficou lá por algumas horas, saiu sem dirigir a palavra ao homem.
Chegou em casa, ligou uma lâmpada e chorou. Chorou até seu coração gritar, até a última gota de água.
Não era a única.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Noite da semana

Um restinho da noite
Um coração endividado
Um bocado de solidão
E todos os anseios e amor da alma humana...