quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Sorrir

Na bagunça do ônibus, vim pensando quando foi a última vez que dei um sorriso de verdade, daqueles que a alma sorri junto.  É, fazia algum tempo. Mas então, como era gargalhar às pressas?
Lembrei da infância com minhas primas. A despreocupação com o cabelo, a roupa, a cárie do dente. Falavamos besteiras não pra machucar, mas para se divertir. Rir de um corte de cabelo, rir de um gesto, rir da roupa da vizinha, das aulas cômicas do professor de matemática... rir. Rir sem se preocupar se alguém vai achar ruim em ouvir as gargalhadas no meio da rua. Rir na hora do rush, num ônibus lotado. Rir de olhar pro rosto dela e ver que ela está comigo, me fazendo rir.
A gargalhada que alimentava a alma.
O ônibus parou e vi uma garotinha rindo. Uma gargalhada tão gostosa que não queria nem saber o porquê, só queria sentir. Sorri junto e lembrei que não fazia tanto tempo assim que meu coração transbordou de tamanha alegria. Como naquele momento.
Gargalho quando sinto amor perto de mim.
Dar um sorriso verdadeiro, daqueles que a gente sorri sem perceber, como a gente faz nas cenas românticas dos filmes. Eu sorrio todas as vezes que criaturas iluminadas chegam perto de mim.
Meu coração dói de tanta alegria. Dá um frio no estômago, não importa se estou bem vestida, se o cabelo está em ordem, eu sorrio.
Sorrio pra afastar a tristeza, sorrio pra dizer que amo.
Sorrio porque estão perto de mim.
Descobri o verdadeiro sentido de sorrir aos 20 anos. Num ônibus.
Minha  alma gargalhou até eu sentir as borbulhas do meu coração transbordar.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Final do dia

Morreu, na manhã de um dia importante. Ela sabia que aquele dia muita coisa ia ser decidida.
Preferiu morrer.
Morreu por fraqueza, pela face cansada de sorrir
Pelas cordas vocais arrebentadas
A mente continuava, essa velha amordaçadora

Chorou no final do dia, sozinha, como queria.
Amanha há de ser um novo dia
Sempre é um novo dia.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Eu quero ser assim. Não me interessa revoluções utópicas e nem quero ser caçadora da verdade. Me contento com o brilho de pequenas coisas, o brilho do amanhecer que entra de mansinho pela brecha da cortina do meu quarto. O brilho tímido que sauda e diz que é um novo dia. Quero o amor descontrolado dos amantes.
Eu quero viver assim. Pequena mas brilhante.
Quero ser como  o inseto verde que brilha numa imensidão cinza. Quero chegar como ele chegou em mim; agarrando as pernas, caindo na cinza e mesmo com um baque, mostrando o brilho. Vivo do meu modo, mesmo suportando a morte que me desejam. Eu quero ser o brilho que aparece num dia chuvoso.