sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Marília

O dia nasceu choramingando. Um desses instrumentos de corda estava tocando. Fazia uma melodia matinal. Marília acordou com o coração chuvoso e frio. Pegou a toalha e saiu. Abriu os olhos quando já estava fora da casa, na varanda. O sol nem havia acordado e ela estava ali, parada, com as luzes apagadas, na escuridão da noite que estava arrumando as malas. Sentiu a brisa tocar-lhe as costelas, dançando e brincando em fazer arrepios no corpo.
-O que você faz aí parada?
-Nada! (oh céus, não me deixam nem pensar em paz?)
Marília virou-se, deu um beijo no nada e voltou. De repente, no meio do caminho, pôs-se a chorar. Soluçava, caída no chão. Quem visse Marília daquele jeito que visse, ela não se importava.
Enxugou as lágrimas e foi tomar banho.
Escovando os dentes, olhou-os, como de costume:
-Que bonitos, todos quadrados e grandes.
Então, no abaixar da cabeça, pôs-se a chorar de novo:
-CÉÉÉUS, QUE DROGA DE VIDA! SOU TÃO LEGAL MAS TÃO DISTANTE AO MESMO TEMPO! QUANDO HEI DE SER FEIA MAS TOCÁVEL?

Marília vestiu o casaco cor de vinho, pegou as chaves e saiu. Não se importou em borrar a maquiagem negra, quis se misturar com as gotas matinais e perder-se. Lembrou-se do garotinho de algum filme. "Quero poder ter aqueles óculos e me sentir invisivel".

Quando Marilia conquistou um sorriso, um saco de coisa ruim sentou-se ao seu lado. PRONTO! Era o fim de Marília. Como queria um cigarro, como queria fugir dali, como sua face doía com sorrisos falsos e amarelos, como aquele saco a incomodava!
Marília levantou-se e sem olhar para trás, correu. Correu  até encontrar o posto mais próximo. Encontrou um par de olhos azuis, abracou-o e chorou. O céu chorou junto.
-O que você tem, Marília?
-Tenho a dor dos corações e do mundo, me abraça.

3 comentários:

  1. Gostei do jeito como vc escreveu esse texto. Preciso reestudar a língua portuguesa pra poder elogiar adequadamente.

    ResponderExcluir
  2. Saudades de conversar com você Iza!(de verdade)

    ResponderExcluir