domingo, 5 de setembro de 2010

A história de Nichol

Nichol é um típico rapaz do Norte. Não gosta de festas e nem efusividade. Ficava recluso em seu quarto por horas e sempre que sua mãe perguntava por que ele não saía, a resposta era a mesma: -A luz das ruas estão desligadas.
Um dia, o telefone tocou. Não havia ninguém em casa. Esqueci de contar a vocês que Nichol odeia atender o telefone. Nichol fechou o livro com a ira de um Deus, causando um estrondo em toda a vazia casa. Levantou-se, ecoando o barulho do salto de seu sapato, desceu as escadas, passou pela biblioteca, virou-se à cozinha e enfim estava frente ao telefone. Oh, que barulho horrendo. Parecia um bebê que insista em chorar no meio da madrugada, doía-lhe os ouvidos, a mente, até os dedos. Nichol olhou em volta, não havia ninguém. Trêmulo, tocou ao telefone, no último bipe, e atendeu.
-Olá?
-Oi, Nichol?
-Pois não?
-Tô com grana e quero sair, vamos?
-Não dá.
-Deixa de coisa cara, vamos logo!
-Você sabe que odeio que me chamem dessa gíria. 
-Tudo bem, desculpe. Vamos?
-Não.

Nichol desligou o telefone. Quis jogá-lo pela janela, enterrá-lo e nunca mais ter contato com essas pessoas. ''cara'', onde já se viu?
Nichol ficou por 2 minutos parado, fazendo toda a reconstituição daquelas últimas palavras proferidas.
Sentou-se na cadeira mais próxima, olhou o céu pela brecha da cortina laranja.
-O anoitecer me faz triste.
Então, Nichol, no mesmo instante, levantou-se, pegou seu casaco, as chaves e partiu. Não sabia ao certo para onde iria, mas iria.
Rondou todo o centro da cidade, comendo cada fatia dos prédios antigos, das árvores centenárias, das luzes, dos ferros, das cores e de alguns olhares curiosos. Queria ver o rio.
Estava anoitecendo e ele sabia que não haveria canoas para o levar num pequeno tour. Ele sabia falar inglês e, como gringo por essas terras sempre tem preferência, pôs-se a resmungar alguma coisa em outra língua.
Nadou o rio, escalou grandes barcos e enfim encontrou alguém para levá-lo.
Nichol nunca havia se sentido tão feliz quanto aquela tarde. Olhou para seu reflexo naquelas águas negras e voltou a olhar para o céu. O crespúsculo transformara-se em manhã. Ooh, doce e saudosa manhã...
Nichol tirou sua melhor amiga, a máquina fotográfica. Estava tão excitado que de repente, passou a enxergar não pelas retinas, mas pela lente da máquina. Sorria e prestou-se a tirar fotos até do homem simples que remava.
-Look! It's so beautiful...

Nichol passou por cataratas, cachoeiras, viu todos os tipos de animais, flores e árvores. Sentiu-se completo diante de tanta beleza. Queria morrer ali, naquela canoa branca, olhando as gaivotas rosas sobre sua cabeça. Nunca mais Nichol voltou à antiga casa colonial. Roubou de si os livros, o casaco e as chaves [embora esta última não seja mais útil].

4 comentários:

  1. Iza... você tira qualquer comentário que eu possa fazer sobre seus textos, eles são lindos, de verdade, sem nem um tipo de demagogia. Você escreve divinamente bem! beijos

    ResponderExcluir
  2. Isso hei de concordar com o Pedro! Mesmo quando eu tinha muita raiva de vc, eu gostava de seus textos. Por algumas vezes detestei alguns q vc escreveu por escrever. Acho q vc lembra de eu ter reclamado... Era pq eu sentia.
    Mas em maioria, são muito bons!

    ResponderExcluir
  3. Eu queria estar com o Nichol. Mesmo um pouco antipático, parece possuir uma sensiblidade dentro de si. E isto o tornou, para mim, um rapaz agradável. Um abraço grande, Iza.

    ResponderExcluir
  4. Esse Nichol poderia muito bem se chamar Pedro

    ResponderExcluir