sábado, 4 de setembro de 2010

Setembro

-Eu poderia ficar sentado uma eternidade aqui com você, sabia?
-Eu também. Por que demorou tanto?
-Porque voce não me chamou...

Numa manhã de Setembro, lá estava eu, esperando, como mais um dia, o onibus passar. Deveras estava demorando. Fazia frio, mas o sol teimava em aparecer, nem ao menos que fosse pra sinalizar que existe.
A aula começava às 6h. Já eram 05:30. Olhei para o relógio. Avistei alguém pelo vidrinho, olhei pra trás e era um velho colega. Trocamos algumas palavras soltas e sem sentido. Algo como ''oi, o que cê faz aqui?''
Então, num relance de olhar, eu o vi. Ele vinha descendo a rua, sem nenhuma preocupação aparente. 
Cabelos longos, castanho claro, pele alva e olhos claros. Verde, marrom, cinza, até hoje não sei ao certo quais cores eram. Mesmo que todas as noites eu o olhasse profundamente e interruptamente. Aquele olhar fundo, as pálpebras levemente caídas, o típico rosto de alguém perfeito para uma bela maquiagem. 
-Oh, páre com esses pensamentos sem sentido! Ele é um homem, um moço, um menino saindo da infância e descobrindo a cor do mundo.
Mr. Johnson olhou para trás e o reconheceu. Era um amigo. 

-Oi! Quer ir comigo?
-Pra onde?
-Nesse onibus...
-Ah sim, claro! Vamos
-Posso te dar meu violão, c quer?
-Seu violão?
-Oh, não pense que é uma troca de favores, viu?
-Que isso, eu sei que não.

Sorri o sorriso mais sem graça da história. Eu estava maravilhada, sabia mas não queria admitir. Será essa a minha grande chance? Ou não? Talvez seja mais um dos jogos sem graça da vida.
Entramos, sentei ao lado direito. Tinha vários bancos vagos, mas ele sentou-se ao meu lado.
-Acho que gostei de você assim que te vi.
-Eu também.

As mãos ficaram trêmulas. Eu desapareci, ele ficou lá.

Um comentário:

  1. Faz algum tempo que não comento aqui, não é mesmo? Isso não significa que não leio as suas palavras.
    É muito bonito ver como você pega situações simples de um cotidiano e escreve, transformando isso em algo tão belo.
    Grandes beijos Iza

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