sábado, 7 de agosto de 2010

07 de Agosto

No meio de tantas pessoas [ó como eu odeio falar "pessoas"] parei com os pés calejados. Olhei para os sapatos e lembrei de uma frase. "Quer conhecer alguém? Olhe os seus sapatos". E de repente, eu era outra pessoa, diante de mim, olhando para os meus sapatos, como se fossem os olhos. Tão surreal que poderia levantar a sola e escrever toda a minha história, todos os pequenos e discretos sapatos que ja tive e que ainda persisto em usar. O meu sapato, tão bonito mas doloroso por dentro. Como o meu coração, que faz dos meus pés, migalhas. Fiquei boa parte do tempo fitando-o, na parte mais esquecida do shopping. Eu, o par de sapatos e um moleque que insistia em bater na madeira do banco. Nada insistia em existir, somente nós três, os únicos que se inseriam num mundo que insistia em existir mas que ninguém parava para olhar. 
O bater na madeira se tornou mais forte e me despertou como um estalar de dedos. Levantei a cabeça e vi um garoto esquivo e magrelo, com um boneco que mais parecia sua caricatura. Ele andava esbelto e se animou quando viu algum outro boneco. De repente, não mais que de repente, a atenção muda com um abraço forte, daqueles que o levanta ao ar. "Quem será este que o invade no meio da multidão?"
As duas mulheres que o acompanhava, distanciavam-se, na desculpa de ver uma mercadoria qualquer na vitrine mais próxima.
O garoto pulava e o homem o beijava. "Só pode ser pai dele. Como são parecidos..."
Ouvi a voz do homem, chamá-lo de filho.
E aquela atmosfera foi se reprimindo. Só os dois e eu, a bisbilhotar. Junto com os sapatos que já deixara de me olhar, espionava comigo aquela cena. Digno!
O desejo de abraçar um homem e ele me chamar de filha, tomou conta de mim. Com aquela mesma alegria, mesmo apreço. Sem se importar se a mãe fala ou não com ele. O garoto era o único da vida daquele homem, o filho dele. Aquele que o parava no meio da multidão, ficava grandiosos minutos abraçados e o beijava, com o doce mais embriagante de todos os chocolates e açúcares.
Fiquei olhando o resto das crianças e seus pais. Domingo era o dia deles. Deveria estar comprando algo, com o pensamento longe. Mas eu estava ali, sentada, desejando esse mesmo amor confiante.

3 comentários:

  1. :-)
    Amanhã se comemora o dia dos pais e eu me lembrei de algo. Eu conto pra você depois.

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  2. Podem ser por outro motivos, mas as lágrimas quase transbordaram dos meus olhos ao ler esse seu texto. Realmente emocinante. Beijos Iza :*

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  3. Será q sabemos ou saberemos um dia oq é um pai?
    Talvez eu saiba um dia se eu tiver um filho...
    Entendo seu dilema... Aquilo q a gente tem e nao tem.

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