terça-feira, 17 de agosto de 2010

Estranhos

Marcava duas horas da manhã quando ela abriu a porta e ele estava sentado, tomando mais um copo de cerveja. Ela tirou os oculos e sentou-se à sua frente. Despiu-se do casaco e olhou para ele, os olhos estavam carregados de maquiagem escura. Eram aqueles olhos pesados olhando para aquele olhar profundo e límpido.
Ele soltou uma brincadeira qualquer e ela sorriu, pediu desculpas pelo horário e ele, como sempre, ignorou e entrou em algum assunto. Conversaram, beberam e ela começou a entrar naquele coração escondido, entre as montanhas de vento.
Sentiu que estava em casa, quis pegar na mão dele mas hesitou. Ele sempre foi metido a machão, mas se mostrara tão dócil que colocá-lo dentro da bolsa seria egoísmo.
Conversavam e cada minuto que se passava, as palavras multiplicavam.
O sol raiou e ele olhou para fora. Olhou para ela. Disse: "Eu amo você. Pra caralho."
"Você terá seu filho, nem que seja com uma mulher, em uma noite."
"Não existe mulher que não seja você, quero para sempre"

Ela olhou para o sol e viu o laranja claro do dia nascendo.
Olhou para ele e tocou nos seus olhos. Deu-lhe um afago.
Ele se levantou, deu-lhe um beijo e saiu.

Um fio de cabelo ficou na bolsa dela. Um fio do imenso cabelo dele. Um fiapo daquele olhar.
Levantou-se e gritou, vendo-o por a mão na porta: "EU TAMBÉM AMO VOCÊ, ESTRANHO!".

2 comentários:

  1. Que conto adorável temos aqui. Encanta-me a formaq como escreve Iza. Beijos

    ResponderExcluir
  2. Adentrando nos sonhos?
    Efeito do filme?
    Estás também esperando o pião parar de rodar?
    ;)

    ResponderExcluir