quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Em coma conduzido.
Os dedos procuravam o lápis mas não o achava, os olhos cheios de água e o corpo em chamas.
Deveras teria passado semanas assim... morta dentro de si.
Não conseguia mais ver o mundo como devia e sua alma ia sendo esfaqueada ao longo dos dias.
Queria o sol, mas as pernas se recusavam a andar, queria a brisa mas a pele...
Esta adormecida de injeções puras de mágoas e tristezas, debruçava-se no frio.
Os olhos, estes espertos e atentos, a tudo notava.

A ultima chama daquilo que eu considerava esperança, estava fraca naquele quarto sem janelas.
''Sou feliz na minha caixa amarela''
Era.
Sem livros, sem vozes e sem palavras, afundava-me naquele buraco que antes, so via nos causos alheios.

Estava ali, sozinha como jamais imaginava. Chorava calada e a alma ia se desfazendo a cada amanhecer. A pele, desmanchava-se à luz do sol, sem pedir permissão, ia-se doando aos poucos às formigas, às baratas, à poeira que ali habitava.

Antes do som ser introduzido naquela pequena sala luxuosa e mal iluminada, imaginei-me naquele palco.
Cliquei fotos com os olhos.
Olhei as faces que tanto quis.
''Ah! As faces do seu quadro, lembra Iza?'' - Alguém havia murmurado ao seu lado.
Reconheci a voz.
''Você voltou meu amado amigo!''

Havíamos feito silêncio e nada mais importava a não ser ambas as faces.
Ele estava lindo, como sempre.
A aura brilhante, os olhos cheios de lágrimas por ver-me.

''Eu te desejo paz, meu amor''

Os olhares foram rompidos quando a primeira nota revelou-se.
Era magnífica.

Eu estava completamente seduzida por aqueles dedos, aquele som, aquela luz que me trazia lembranças.
Pairava entre uma manhã fria e aquela noite calma.
E ele estava imóvel a minha frente.

Olhou-me fixamente e sorriu com os olhos.
Olhos azuis e idosos, dedos talentosos.

Naquela noite eu viajei o séc XVIII e ouvi tenores, carroças, murmurinhos de damas e senhores da borracha, barulhos de pequeninos e delicados sapatos no sobrado e os cavalos calmos...

Minha vida passou-se no brilho daqueles sapatos e no reflexo dos lustres do castelo...

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